“O que tentei fazer nesta monografia foi dar uma olhada na pessoa rotulada como esquizofrênica, no seu contexto humano real e pesquisar como tal rótulo lhe foi colado, quem a colou e o que isto significa, seja para os rotuladores, seja para o rotulado”. - David Cooper no prefácio de sua obra “Psiquiatria e Antipsiquiatria”
Se atualmente muito se questiona o binômio normalidade-doença mental, sobretudo pelos vieses dos manuais diagnósticos, indústria farmacêutica e políticas públicas, deve-se compreender todo o questionamento da Saúde Mental no progressista movimento de Contracultura dos anos 60 do século XX.
O momento pós-guerra vivenciado nos anos 60 evidenciou a necessidade de nova ordem e valores sociais. Como resultado, tal década presenciou a eclosão de variados movimentos sociais como o feminismo e a luta pela igualdade de direitos dos negros e homossexuais. O questionamento dos valores vigentes atingiu também a Psiquiatria constituindo o chamado movimento de Antipsiquiatria.
Usado pela primeira vez por David Cooper em 1967, o termo Antipsiquiatria revelava a repressão e dominação exercidas pela Psiquiatria e Psicoterapia vigentes na época. Corroborada por outros importantes nomes como Michel Foucault, Ronald Laing, Thomas Szasz e Franco Basaglia, a Antipsiquiatria questionava o uso de diagnósticos psiquiátricos como ferramenta de repressão e segregação. O movimento indagava ainda o valor moral no qual a Nosologia Psiquiátrica estava envolta e iniciou a reflexão acerca da “medicalização” da dosordens mentais.
Desconstruindo o modelo hospitalocêntrico instituído por Philippe Pinel surge a “Psiquiatria Democrática” elucidada pelo psiquiatra italiano Franco Basaglia. Basaglia não objetivava o fim da Psiquiatria, mas sim sua transformação, incluindo a substituição gradativa dos manicômios por dispositivos extra-hospitalares de assistência que reintegrariam e assegurariam a cidadania dos doentes mentais.
As críticas propostas pela Antipsiquiatria destituíram o modelo hospitalocêntrico tornando a especialidade hoje centrada no atendimento ambulatorial. A hegemonia do psiquiatra diluiu-se com o reconhecimento de outros profissionais tornando a Saúde Mental multidisciplinar.
Como legado da Antipsiquiatria se reconhece ainda a construção Biopsicossocial da doença mental. Assim, surgiram questionamentos e transformações crescentes dos sistemas classificatórios em Psiquiatria e a progressiva investigação de achados neurobiológicos na interpretação dos transtornos psiquiátricos.
MATERIAL SUGERIDO:
Livro: “Holocausto Brasileiro: Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil” - Daniela Arbex
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