Importância e contribuições de Foucault para a Psiquiatria

“E creio que é essa função desses psicólogos, psicoterapeutas, criminologistas, psicanalistas, etc.; qual é ela, senão ser os agentes da organização de um dispositivo disciplinar que vai se ligar, se precipitar onde se produz um hiato na soberania familiar?”  FOUCAULT, Michel. O poder psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006, pp. 105-106.

Michel Foucault foi um teórico social e filósofo que focou, em grande parte de suas obras, no uso de poder e conhecimento como ferramenta de controle social. Logo observou que as internações e classificações diagnósticas também representavam forma de domínio sociopolítico, dedicando-se ao estudo da “História da Loucura”.

Foucault realizou extensa leitura de arquivos médicos do século XIX, incluindo tratados e relatos clínicos de grades nomes da Psiquiatria como Pinel e Esquirol. Através de denso estudo, o autor constata o poder das práticas discursivas apoiadas nas práticas não discursivas sobre a loucura. Assim concluiu que a Psiquiatria não surge como dispositivo de cura, mas sim como ferramenta disciplinar de isolamento daqueles que perturbam a ordem social e familiar.

Foucault descreve ainda a relação temporal entre a Revolução Francesa e ascensão do reconhecimento do saber psiquiátrico. Com a diluição do poder absolutista real e do judiciário, fez-se necessário a consolidação de outra entidade capaz de respaldar o controle de indivíduos com conduta desviante, intensificando assim o papel dos médicos psiquiatras.

No capítulo intitulado "A casa dos loucos" de seu livro "Microfísica do Poder" Foucault categoriza a verdade científica como uma entidade facilmente desqualificada pela prática científica e pelo discurso filosófico. Ou seja, salienta que o conhecimento, incluindo a Medicina, vale-se de estratégia e variados vieses e não de método e imparcialidade.

O autor demonstra o caráter de quimera da loucura vigente antes do século XVIII. Cabia, portanto, ao portador de transtornos mentais o uso terapêutico da natureza sendo prescritos retiros em ambiente bucólico, afastando-se assim da artificialidade e caos urbano.

As internações na Psiquiatria tornaram-se comuns a partir do século XIX sob a associação dos transtornos mentais a desvio de conduta. Assim os hospitais psiquiátricos tornam-se locais de diagnóstico e  classificação de doenças, além de ferramenta de contenção e submissão daqueles apontados como desviantes. Foucault examina ainda o papel do médico, explicitando como a verdade científica pode ser fabricada e usada como ferramenta para o exercício do poder.