A linguagem e suas alterações

Palavra viva

Palavra com temperatura, palavra

Que se produz

Muda

Feita de luz mais que de vento, palavra [...]

Palavra minha Matéria, minha criatura, palavra

Que me conduz

Mudo

E que me escreve, desatento, palavra.

Chico Buarque de Hollanda (Uma palavra, 1989)

 

A linguagem possui como funções a comunicação (socialização), o suporte do pensamento, a afirmação do eu, é um instrumento de expressão, e de dimensão artística e/ou lúdica (linguaguem como poesia, literatura).

A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, com a qual influencia e é influenciado, a base da sociedade humana. É uma criação social de cada um e de todos os grupos humanos.

 

ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM

 

Alterações da linguagem secundárias a lesão neuronal identificável

  • Geralmente após AVC, tumores, malformações de vasos; maioria em hemisfério esquerdo, nas áreas cerebrais da linguagem.

Afasia: perda da linguagem, falada e escrita, por incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais.

Parafasias: déficit mais discreto de linguagem, nas quais o indivíduo deforma determinadas palavras, como designar de “cameila” a cadeira.

Agrafia: perda, por lesão orgânica, da linguagem escrita, sem que haja qualquer déficit motor ou perda cognitiva global.

Alexia: perda, de origem neurológica, da capacidade previamente adquirida para a leitura.

Disartria: incapacidade de articular corretamente as palavras devido a alterações do aparelho fonador.

Disfonia e disfemia: disfonia é alteração da fala pela mudança na sonoridade das palavras. Afonia é disfonia grave, não emite som. Disfemia é alteração da linguagem falada por fatores psicogênicos e não orgânicos, como gagueira.

Dislalia: alteração da linguagem falada que resulta da deformação, da omissão ou da substituição dos fonemas (podem ser orgânicas ou psicogênicas).

Alterações da linguagem associadas a transtornos psiquiátricos primários

Logorréia, taquifasia e loquacidade: Logorreia é linguagem verbal aumentada e acelerada (taquifasia), pode perder a lógica (falar sem parar - quadros maníacos). Loquacidade é aumento da fluência verbal sem perder a lógica.

Bradifasia: oposta à taquifasia, fala devagar, lenta e difícil (depressão grave, demência, esquizofrenia).

Mutismo: ausência de resposta verbal oral por parte do doente (neurobiológica, psicótica ou psicogênica).

http://dicionariosaude.com/wp-content/uploads/2013/12/006farb.jpgPerseveração e estereotipia verbal: repetição automática de palavras de modo estereotipado e sem sentido (lesão orgânica).

Ecolalia: repetição da última palavra que o entrevistador falou, involuntário.

Palilalia e logoclonia: palilalia é a repetição automática e estereotipada pelo paciente das últimas palavras que ele próprio emitiu; logoclonia é repetição automática e involuntária é a das últimas sílabas que o paciente pronunciou.

Tiques verbais e coprolalia: No tique verbal, o paciente produz geralmente sons guturais, abruptos e espasmódicos. Coprolalia é a emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas ou relativas a excrementos (transtorno de Tourette).

Glossolalia: fala gutural, pouco compreensível, sons ininteligíveis (Ex: cultos pentecostais - fala em línguas estrangeiras sem tê-las estudado).

A linguagem na esquizofrenia

As alterações são indicativas de como o processo de pensar, a formação e a utilização de conceitos, juízos e raciocínios estão profundamente afetados:

neologismos patológicos, estilizações, rebuscamentos e maneirismos (posturas e funcionamentos rígidos e estereotipados), jargonofasia ou esquizofazia (salada de palavras, frases sem sentidos, caóticas), criptolalia (linguagem incompreensível, língua privada do doente).

A linguagem na demência

No início: parafasias, dificuldade em encontrar palavras, uso de termos vagos.

As alterações progridem: afasia nominal (déficit em nomear objetos e figuras apresentadas ao paciente), afasias mais globais, até perda completa da linguagem verbal.