A personalidade e suas alterações

PERSONALIDADE: é o conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais, em sua relação com o meio.

Distinguem-se basicamente, segundo Mira y López (1943), os seguintes aspectos relacionados à personalidade e à sua expressão:

Constituição Corporal: conjunto de propriedades metabólicas, bioquímicas, hormonais, transmitidas ao indivíduo principalmente pela genética. Aparência, gestos, voz: têm influência sobre as experiências psicológicas da pessoa, seu modo de reação em relação aos outros.

Temperamento: conjunto de particularidades psicofisiológicas e psicológicas inatas, que diferenciam um indivíduo de outro (uns são mais astênicos/passivos, outros mais estênicos/ativos). Combinação de fatores genéticos/inatos + adquiridos/aprendidos

Caráter: soma de traços de personalidade, expressos no modo básico de o indivíduo reagir perante a vida, seu estilo pessoal, suas formas de interação social, gostos, aptidões, etc. O caráter reflete o temperamento moldado, modificado e inserido no meio familiar e sociocultural (ambiente).

 

TIPOLOGIAS HUMANAS OU TIPOS DE PERSONALIDADE

 

1º desenvolvida: escola hipocrático-galênica

A medicina hipocrática é essencialmente ambientalista. Todas as questões médicas repousam sobre a teoria dos quatro elementos do filósofo pré-socrático Empédocles: água, terra, ar e fogo. A esses quatro elementos correspondem quatro qualidades: quente, frio, seco e úmido.

Os tipos humanos hipocráticos e a saúde dependem da harmonia entre 4 humores do corpo humano: o sangue, a bílis, o fleuma (ou linfa) e a atrabílis (ou bílis negra, que alguns historiadores sugerem que tenha sua origem na observação do sangue coagulado).

Sanguíneo: é um tipo expansivo e otimista, mas também irritável e impulsivo.

Fleumático: sonhador, pacífico e dócil, subordina-se a determinados hábitos e tende a levar uma existência sem paixões.

Bilioso ou colérico: demonstra ambição e desejo de domínio, tem propensão a reações abruptas e explosivas.

Melancólico: tende ao pessimismo, ao rancor e à solidão.

A tipologia de Carl Gustav Jung (1875-1961)

A totalidade da personalidade, segundo Jung, é constituída de: persona, sombra, animus e anima.

Persona: É a dimensão exterior da personalidade; a máscara adotada pelo indivíduo nas relações sociais; o papel social. É a máscara que “colocam” sobre o indivíduo e que, ao final, ele acredita ser ele mesmo.

Sombra: São os elementos inconscientes e inaceitáveis da personalidade, reprimidos pela consciência. Aspectos da própria pessoa que freqüentemente são repudiados e rejeitados com veemência por ela e que ela projeta sobre outras pessoas, criando uma ideia ruim sobre a mesma.

Ânima: conjunto de elementos femininos inconscientes presentes em todos os homens, que foram adquiridos por experiência com mulheres, principalmente com a mãe.

Ânimus: conjunto de elementos masculinos existentes no psiquismo feminino, de forma principalmente inconsciente, principalmente com o pai.

A personalidade e seu desenvolvimento segundo Sigmund Freud (1856-1939)

Para Freud, a constituição da personalidade está relacionada com a libido. Segundo a psicanálise, as fixações infantis da libido e a tendência à regressão acabam por determinar tanto os diversos tipos de neuroses, como o perfil de personalidade do adulto. A primeira fase do desejo libidinal da criança é a fase oral, no 1º ano de vida, sendo a fonte de prazer a boca/sucção (mamar). O individuo fixado nessa fase não suporta a privação e tem dificuldades com a rejeição, é dependendo, passivo e sem iniciativa.

A segunda forma de organização da libido (2ºano) é a fase anal: interesse e prazer da criança em reter e expelir as fezes – perfil adulto: traços de caráter obsessivo e compulsivo, a tendência à avareza, ao desejo de controlar a si mesmo e aos outros, assim como as tendências a fantasias de onipotência e pensamento mágico.

Na terceira fase (dos 3 aos 5 anos): fase fálica, crianças interessam-se crescentemente por seus próprios genitais. O tipo fálico pode tender ao exibicionismo físico e mental, pode ser descrito como agressivo, intrometido.

 

http://www.sobreavida.com.br/wp-content/uploads/2011/12/multipersonalidade.jpgTRANSTORNOS DA PERSONALIDADE

 

Para identificar o tipo de personalidade: Investigar a história de vida do paciente, enfocando os padrões constantes de relacionamentos interpessoais, formas de sentir e de reagir, modos de se comportar (buscar investigar os traços de personalidade não apenas com o paciente, mas sobretudo com pessoas que convivem com ele)

 

Segundo a classificação atual de transtornos mentais da OMS (1993), a CID-10, os transtornos da personalidade são definidos pelas seguintes características:

 

Surgem na infância ou adolescência

Conjunto de comportamentos e reações afetivas claramente desarmônicos

Longa duração e não limitado ao episódio de doença mental

Inclui muitos aspectos do psiquismo e da vida social

Mal adaptativo (gera dificuldades p/ indiv e pessoas q convivem)

Não relacionadas diretamente à lesão cerebral

Sofrimento (angústia, solidão, sensação de fracasso pessoal)

Gera mau desempenho ocupacional e social

Segundo a CID-10 e o DSM-IV (com ligeiras modificações do autor), os transtornos da personalidade podem ser agrupados em três grandes subgrupos:

 

Independentemente dos três subgrupos mencionados, descreve-se ainda os seguintes tipos específicos de transtorno da personalidade não incluídos nos sistemas DSM e CID:

TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DO TIPO EPILÉPTICO

Sabe-se que apenas alguns pacientes com epilepsia, sobretudo com crises parciais complexas, com focos nos lobos temporais, apresentam alterações da personalidade:

  1. Fácil Irritabilidade
  2. Impulsividade
  3. Desconfiança
  4. Prolixidade (pensamento vago)
  5. Viscosidade na interação pessoal (“grudento”)
  6. Hipergrafia (praticar a escrita de forma compulsiva)
  7. Circunstancialidade (pensamento que “roda” muito em torno do tema)
  8. Hiper-religiosidade
  9. Hipossexualidade (vida sexual hipoativa)
  10. Outras tendências como obsessionalidade, culpa, moralismo, dependência, passividade, senso aumentado de um “destino pessoal”, hostilidade, falta de humor.