Oficina de Leitura

1) História da Loucura: Foucault M. Experiências da loucura. pp.111-34. In: História da loucura na idade clássica. 9ªed. Perspectiva, 2010. 

2) Manicômios, prisões e conventos: Goffman E. Introdução e A carreira moral do doente mental. Manicômios, prisões e conventos.  7ª edição. Perspectiva, 2001. .

3) Estigma e Outsiders: Castro C. Textos básicos de sociologia. Cap.6 e 7. Zahar, 2014.

 

Foucault em seu capitulo Experiências da Loucura disserta sobre a criação do Hospital Geral na Europa até o fim do século XVIII, período que chama de era clássica interna. Justamente pois nessa época se internavam os loucos.

Exemplifica com relatos do hospital Hôtel-Dieu em Paris, Bethleem em Londres, locais para onde os "lunáticos" considerados "tratáveis" eram enviados, lhes assegurando uma condição quase médica, enquanto outros loucos eram levados para casa de internamento, onde viviam regimes de correção. E por outro lado, também, no Hospital Geral, havia apenas um médico para cuidar dos doentes e não dos internos, pois esses não eram considerados doentes apenas por sua loucura. Isso colocava o colocava na mesma situação de prisão.

Há também a questão que se justapõe a esse problema, que é a loucura se resultar do próprio internamento e dos castigos.

Na idade média, o louco recebe uma individualidade, que o destina para locais (como hospitais) específicos aos insanos. Já entre o fim da Renascença e apogeu da era clássica ocorre uma "involução" e uma alteração na consciência da loucura, o louco perde sua individualidade e se mistura/é internado com doentes venéreos, devassos, libertinos, homossexuais. O internamento dos loucos, na medida em que escapa do controle médico se transforma em aprisionamento, e assim, um asilo de insanos deixa de ser apreendido como hospital e passa a ser casa de correção.

Cabe apenas ao médico distinguir o normal da loucura, porém o internamento podia ser decretado pelo juiz de paz, por sentença do tribunal quando feito algum crime, por mandato do rei.

Quando a jurisprudência da alienação se torna condição de todo internamento é também o momento que, com Pinel, nasce uma psiquiatria que pela primeira vez pretende tratar o louco como ser humano. O alienado é reconhecido como incapaz e sua loucura limita sua existência jurídica, porém não deixa de existir.

Goffman (1961), em ‘Manicômios, Prisões e Conventos’, revela parte da dinâmica do Hospital Psiquiátrico, enquanto Instituição Total (que impede o contato de seus participantes com o mundo externo), que tem por objetivo o controle, a alienação e separação do indivíduo internado da vida social. Apresenta a “mortificação do eu”, que ocorre primeiramente com uma barreira imposta pela instituição entre o interno e o mundo exterior. Posteriormente, esse processo se dá pela perda da identidade, do nome, das posses e com maus tratos, violência, para que o interno se adapte ao local. Esses fatos são justificados para controlar a vida de grande número de pessoas em um espaço pequeno com poucos recursos.

No livro Estigma (1963) de Ervig Goffman, o autor analisa como os indivíduos estigmatizados (com características físicas ou morais consideradas negativas pela sociedade) tendem a manipular as informações sobre si.

A biografia do indivíduo seria uma mistura da identidade pessoal (informações a seu respeito) e da identidade social (criada pelas múltiplas relações sociais).

Goffman cria um estudo de interações sociais, usando-se uma metáfora teatral, como se os indivíduos fossem atores desempenhando papéis diante de outros atores e do público, em diversos cenários. O self seria o resultante dessas interações das quais participamos, das "máscaras" sociais que usamos.

A identidade social se refere aos tipos de papéis ou perfis que um indivíduo consegue sustentar. Por ex: para alguém que considera que teve um passado sombrio, essa é uma questão relativa à sua identidade social, o modo como ela lida com essa informação é uma questão de identidade pessoal.

A descoberta de um defeito de um indivíduo prejudica sua situação social com seu círculo de amizades, mas também a imagem que terão dele no futuro. O estigma e o esforço para escondê-lo e consertá-lo são parte da identidade pessoal.

Quando o indivíduo está entre pessoas que lhe desconhecem, essas podem ou não elaborar uma identificação pessoal para ele. Dentro do círculo de pessoas que têm uma informação biográfica sobre alguém, há um círculo menor das que tem um vínculo social com ele, e que devem manter um ritual de socialização, o que constitui um reconhecimento social.

A fama e a má reputação implicam que uma parte da população tem uma imagem do indivíduo. A imagem pública de um indivíduo pode estar constituída de uma seleção de fatos que se expandem e tomam uma forma dramática e digna de atenção. Pode ocorrer um tipo de estigmatização, pois a figura que o indivíduo apresenta na vida diária com quem tem relações pessoais será influenciada pela sua imagem pública. Há uma manipulação da identidade pessoal de pessoas famosas ou de má reputação.

De acordo com o contexto diário, podemos construir diferentes narrativas autobiográficas, assim como cada pessoa pode ter uma identificação pessoal diferente da mesma pessoa. Por exemplo, um homem tem uma relação com seu chefe, que cria identificação diferente da que esse mesmo homem tem com seu filho.

Outsiders, publicado também em 1963, por Howard S. Becker, traz o significado dessa expressão como pessoas que estão além das fronteiras ou limites socialmente estabelecidos, muitas vezes são os "marginais" ou "desviantes". É um termo aplicado para aqueles que infringem uma regra imposta. O desvio é qualquer coisa que difere do que é o mais comum.

Por outro lado, a pessoa que está infringindo a regra pode não aceitá-la como certa e pensar que seus juízes são outsiders.

Há regras formalmente promulgadas como leis, e acordos informais, que são sedimentados com a sanção da idade e da tradição.

Quando algo não é muito diferente de nós, tendemos a ser mais toleráveis em sua punição, como uma pessoa que bebe mais em uma festa. Porém, aquele que vemos menos semelhante a nós, punimos severamente, como um ladrão.

Muitas vezes a definição é política, sendo que a questão é o objetivo de um grupo e quem atrapalharia essa meta seria um outsider.

Os grupos sociais criam desvio ao fazer as regras cuja infração constitui desvio. O desvio não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma consequência da aplicação por outros de regras. Não se pode dizer que os desviantes tem fatores comuns de personalidade ou situação de vida, pois não se trata de um grupo homogêneo.

Algumas regras tendem a ser mais aplicadas a um grupo de pessoas do que outro, como meninos ricos que cometem um crime e meninos de classes baixas. Isso demonstra que o desvio é um produto de um processo que envolve reações de outras pessoas ao comportamento.

Além disso, as regras criadas constituem muitas vezes em objeto de conflito e divergência, pois não são universalmente aceitas.