Relação médico-paciente

O encontro entre médico e paciente é medrado por expectativas conscientes e inconscientes. Nesse sentido, a pessoa em adoecimento deposita no médico tanto seus medos mais profundos quanto seus anseios mais esperançosos, advindos de suas necessidades psicológicas mais íntimas.

Nesse plano de fundo, surge a TRANSFERÊNCIA, que pode vir tanto na perspectiva materna quanto paterna na figura do médico. A primeira busca uma figura capaz de receber e elaborar suas dores e angústias, devolvendo-as de forma transformadas, elaboradas e aceitáveis. Já a figura paterna veste a virilidade e habilidade, capaz de domar os perigos do mundo (Langer; Lunchina, 1978; Tahka, 1988).

A CONTRATRANSFERÊNCIA, por sua vez, possui direção inversa da transferência, e nesse caso, abarca todos os sentimentos que o médico sente em relação a este paciente, processados pelo inconsciente e consciente. Vale salientar que este processo é um fenômeno intrínseco da relação médico-paciente, que integra tanto os campos intrapsíquicos quanto interpessoais. Nesse sentido, é importante que ela se estabeleça para que a relação entre ambos se torne mais forte e produtiva, para que não ocorra crises de confiança e quebra de identificações.

Nessa perspectiva das identificações, o encontro entre médico e paciente é envolto de encaixes e afinidades. Estas feitas com uma LINGUAGEM, que deve ser funcionante e ressoante entre as partes. Assim, há um envolvimento mútuo entre eles, imerso em compreensão e empatia para que, finalmente, a confiança possa assim se estabelecer de forma mais concreta. Por outra perspectiva, porém, o jogo de identificações pode estar envolto de aversões e antipatias. Nesse caso, há uma interferência profunda no curso de adesão do paciente ao tratamento e vínculo ao médico ou à unidade em que ele atua.

Dessa forma, concebe-se a NEGOCIAÇÃO, também denominada de PROPOSTA. Esta é o resultado do compromisso estabelecido entre médico e paciente sobre as opções de tratamento e cuidado com as demandas e preferências do paciente.

Além disso, há entre esses sujeitos uma RELAÇÃO DE PODER. Nesse sentido, de um lado, está uma pessoa em estado de demanda, em sofrimento, em situação de vulnerabilidade, a pedido de ajuda e auxílio a aquilo que a incapacita de alguma forma. Do outro lado, há um sujeito detentor de conhecimento e saber, supostamente hígido, disposto a dar resolubilidade ao quadro do paciente. Esta abordagem, por sua vez, pode ser feita de uma maneira estritamente técnica ou acolhedora e atenta. O segredo, assim, consiste em encontrar o equilíbrio e a medida de cada um entre o quanto se envolver e o quanto ser tecnicista.

 

REFERÊNCIA:

Capítulo 3: reação à doença e à hospitalização. BOTEGA, N.J. Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. 2ª Edição. Editora Artmed. 2006